Reconstrução de ligamentos do joelho: guia completo para pacientes

A instabilidade no joelho pode transformar tarefas simples — como descer uma escada, correr para pegar um ônibus ou brincar com as crianças — em desafios cheios de dor e insegurança. Quando o ligamento principal do joelho é lesionado, especialmente em entorses esportivas, o tratamento pode incluir reabilitação e, em muitos casos, um procedimento conhecido como cirurgia de ligamento do joelho. A seguir, você encontra um guia claro e direto sobre quando ela é indicada, como é realizada e o que esperar da recuperação.

Entendendo os ligamentos do joelho

O joelho funciona como uma dobradiça sofisticada, estabilizada por quatro ligamentos principais: cruzado anterior (LCA), cruzado posterior (LCP), colateral medial (LCM) e colateral lateral (LCL).

  • LCA: impede que a tíbia “escape” para frente e controla a rotação; é o mais lesado nos esportes.
  • LCP: limita o deslocamento para trás e costuma romper em traumas de alta energia, como acidentes.
  • LCM e LCL: estabilizam o joelho nos movimentos laterais e costumam lesionar em entorses com “abrir/fechar” do joelho.

Quando um desses ligamentos rompe total ou parcialmente, o joelho perde estabilidade. Essa falha pode gerar falseios, travamentos, dor, inchaço e, com o tempo, desgaste precoce da cartilagem.

Quando a cirurgia é indicada

A decisão não é automática. Muitos casos parciais melhoram com fisioterapia, fortalecimento e treino proprioceptivo. A indicação cirúrgica costuma ser considerada quando há:

  • Instabilidade persistente que limita atividades do dia a dia ou esportes;
  • Rupturas completas, especialmente do LCA, em pacientes ativos;
  • Lesões combinadas (ligamento + menisco ou múltiplos ligamentos);
  • Falha do tratamento conservador, com episódios repetidos de “falha” do joelho;
  • Demandas esportivas que exigem mudanças rápidas de direção, saltos e pivôs.

A idade, o nível de atividade, o tipo de esporte e os objetivos pessoais pesam muito na decisão. O ortopedista avalia tudo isso junto com exames de imagem.

Exames e preparo

A ressonância magnética confirma o tipo e a extensão da lesão, enquanto radiografias avaliam alinhamento e ossos. No preparo, o objetivo é chegar ao centro cirúrgico com o joelho “quieto”: mínimo inchaço, boa extensão e início de fortalecimento. Isso ajuda a reduzir dor pós-operatória e acelera a reabilitação. Também são feitos exames pré-operatórios gerais (sangue, risco anestésico) e ajustes de medicações, se necessário.

Como é o procedimento

A reconstrução ligamentar é, na maioria das vezes, artroscópica: o cirurgião utiliza microcâmeras e instrumentos finos, fazendo pequenos cortes. O ligamento rompido não “cola” como antes; por isso, ele é substituído por um enxerto (tecido que fará o papel do ligamento). As opções mais comuns são:

  • Tendões do próprio paciente (autógeno): semitendíneo e grácil (músculos isquiotibiais), tendão patelar (osso–tendão–osso) ou quadríceps.
  • Enxerto de banco de tecidos (alógeno): alternativa em revisões ou quando se quer reduzir tempo de cirurgia, dependendo da disponibilidade.

Passo a passo, de forma simplificada:

  1. O cirurgião remove restos do ligamento rompido e prepara túneis ósseos no fêmur e na tíbia.
  2. O enxerto é passado pelos túneis, posicionando-o na trajetória anatômica do ligamento original.
  3. O enxerto é fixado com parafusos, botões ou dispositivos próprios.
  4. Avaliam-se tensão e estabilidade; corrige-se qualquer lesão associada (menisco ou cartilagem).
  5. Fecham-se as incisões; o joelho é enfaixado e protegido.

O tempo cirúrgico costuma variar de 60 a 90 minutos, conforme o número de estruturas reparadas.

Pós-operatório imediato

Nas primeiras 48–72 horas o foco é controle da dor e do edema (gelo, elevação, analgésicos) e proteção do enxerto. Em muitos protocolos, já se inicia a mobilização suave e a contração do quadríceps. Muletas são usadas de acordo com a orientação médica; em LCA isolado, o apoio parcial costuma ser permitido cedo. A fisioterapia é iniciada logo, com metas progressivas.

Reabilitação por fases

Cada serviço adota um protocolo, mas a lógica geral é parecida:

  • Fase 1 (0–2 semanas): reduzir inchaço, recuperar extensão total, ativar quadríceps, marcha assistida.
  • Fase 2 (2–6 semanas): ganho de flexão, fortalecimento inicial de glúteos, quadríceps e posteriores; treino de equilíbrio.
  • Fase 3 (6–12 semanas): fortalecimento avançado, agachamentos controlados, bicicleta/esteira leve, pliometria de baixa intensidade.
  • Fase 4 (3–6 meses): corrida progressiva, mudanças de direção, exercícios específicos do esporte, testes funcionais.
  • Retorno ao esporte (6–9+ meses): depende de critérios objetivos (força simétrica, testes de salto, propriocepção, confiança) e do tipo de modalidade.

A pressa é inimiga do resultado. Respeitar as fases protege o enxerto enquanto ele biologicamente se integra ao osso (ligamentização).

Riscos e possíveis complicações

Todo procedimento cirúrgico tem riscos, embora sejam incomuns com boas técnicas e cuidados:

  • Rigidez (dificuldade para esticar ou dobrar), geralmente evitada com fisioterapia precoce;
  • Dor patelar ou desconforto no local do enxerto (se patelar/quadríceps);
  • Infeção (rara), tratada rapidamente;
  • Trombose venosa em casos selecionados;
  • Falha do enxerto em novos traumas ou retorno precoce a esportes de pivô.

Sinais de alerta, como febre, dor desproporcional, vermelhidão ou falta de ar, devem ser comunicados ao médico.

Volta ao trabalho e às atividades

Atividades de escritório podem ser retomadas em 1–3 semanas, conforme dor e mobilidade. Trabalhos físicos exigem liberação individualizada. Dirigir geralmente é permitido quando o paciente recupera o controle muscular e a extensão (varia se a perna operada é a do acelerador/freio). Caminhadas recreativas surgem cedo; corrida leve costuma iniciar entre 3 e 4 meses, e esportes de contato/pivô apenas após testes funcionais satisfatórios.

Como maximizar o resultado

  • Siga o protocolo de reabilitação com disciplina.
  • Fortaleça o core e o quadril: estabilizam joelho e melhoram mecânica.
  • Controle peso e inflamação com alimentação equilibrada e sono adequado.
  • Treine técnica: aterrissagens suaves, alinhamento de joelho e quadril, prevenção de valgo dinâmico.
  • Previna novas lesões com programas de salto/aterrissagem e propriocepção (ex.: FIFA 11+ para futebol).

Perguntas frequentes

Dói muito? A dor é controlável com medicações e melhora rapidamente nos primeiros dias.
A prótese é necessária? Não; na reconstrução ligamentar usa-se enxerto, não prótese articulatória.
Vou voltar ao meu esporte? Na maioria dos casos, sim, desde que cumpra a reabilitação e atinja os critérios objetivos de retorno.

Conclusão

A reconstrução dos ligamentos do joelho é um tratamento eficaz para recuperar estabilidade, reduzir dor e permitir retorno seguro às atividades. O sucesso depende de boa indicação, técnica adequada e, principalmente, compromisso com a fisioterapia. Com planejamento e paciência, é possível voltar a se movimentar com confiança e qualidade.

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